sábado, 17 de setembro de 2011

A Little Bit of Heaven (Pronta Para Amar) – Um Texto Cheio de Spoilers


Marley Corbett (Kate Hudson) é uma publicitária de sucesso e com uma carreira consolidada. Cheia de amigos incríveis, ela tem uma ótima relação com sua irmã, sobrinha e cunhado. Marley é uma mulher lindíssima e bem resolvida que não busca envolvimento sério com nenhum homem, pois acredita que é perfeitamente possível ser feliz sozinha. Entretanto, ao descobrir que tem um câncer no intestino Marley passa por uma reinvenção pessoal ao reavaliar o que fez de sua vida até aquele momento e ainda apavorada com a impossibilidade de não poder realizar seus planos futuros. Até aqui o que essa história tem de diferente de outras tantas histórias água-com-açúcar produzidas em Hollywood?
Tudo e Nada. Eu explico. Sim, esse é mais um “draminha” romântico em que a mocinha morre de câncer no final e que, como li em muitas críticas em sites especializados em filmes, é um grande candidato a Seção da Tarde ou ao hilário Cinema em Casa. Mas até pra mim, que sou a rainha dos draminhas-água-com-açúcar devo confessar que acho essa história forte de mais para os horários de exibição sugeridos pelas críticas. E eu nem estou falando das cenas de sexo e nem das insinuações eróticas feitas no filme.

Bem, eu tinha 7 anos de idade quando minha vó materna foi diagnosticada com câncer. Um câncer terminal, inoperável que a levou embora em menos de 3 meses depois do diagnóstico. Segundo meus tios a frase da médica que a atendeu foi: “- Essa mulher está condenada. Não há mais o que se fazer por ela.” Direta, clara, pontual e definitiva. Estamos falando de 1994 quando o combate a essa praga ainda não era nem de perto o que se vê hoje. Mas mesmo hoje, talvez, o resultado tivesse sido o mesmo, afinal era um câncer no cérebro em um lugar de difícil acesso. Eu não lembro de muita coisa, mas lembro dela perdendo os movimentos do corpo e perdendo a capacidade de fazer diversas coisas que ela gosta muito de fazer. Minha avó Atina era uma artista de mão cheia. Bordava, pintava, costurava, desenhava, coreografava e cozinhava como ninguém. A doença foi apagando tudo, até não sobrar nem a lembrança dos seus feitos. Era difícil vê-la tentando segurar a agulha para costurar sem conseguir. Eu vivia com ela. Ela foi/é a melhor pessoa que já conheci e convivi na vida. Erámos almas gêmeas. Nos amávamos profundamente.

Talvez, e só talvez por isso eu tenha me identificado tanto com a história de Marley. Como não se modificar diante de um fato tão definitivo quanto a morte? O que pensa ou sente alguém que recebe uma sentença tão definitiva quanto essa? E como é morrer de uma doença que arrasa tanto a pessoa que a tem?
As críticas que li giram em torno do moralismo criado com a redenção de Marley. Redenção trazida pelo seu envolvimento com o médico Julian Goldstein (Gael García Bernal). Ao perceber que morreria em pouco tempo, Marley resolve que é chegada a hora de se envolver afetivamente com alguém, deixando para traz a sua vida de “farras e folias”.
Contudo, particularmente não me apeguei ao lado romântico do filme. Preferi dar atenção as relações trazidas nele. Uma mulher que se sente sozinha na vida (seus pais brigam o tempo todo, por qualquer motivo), mas se percebe rodeada de pessoas preocupadas com o seu bem estar na hora da morte. Marley resolve seus problemas com a mãe (Kathy Bates) e com o pai (Treat Williams) antes da partida. Deixa seus amigos cientes da importância deles na vida dela, mas não consegue fazer com que a irmã (aquela com quem sempre se deu melhor) perceba a sua dificuldade em abandonar a vida.
Em meu ponto de vista não podemos enquadrar o filme em um gênero específico, pois apesar de ser anunciado como uma comédia romântica, o filme me fez chorar desde suas primeiras cenas.
E eu que desde Íntimo Pessoal adoro filmes em que o mocinho ou a mocinha morrem no fim da história, torci pela primeira vez que o Deus interpretado por Whoopi Goldberg concedesse a Marley um milagre para que ela sobrevivesse à doença. É Incrível o poder que Kate Hudson tem de iluminar uma cena. É incrível como ela não cede a dor trágica da personagem e a conduz lindamente até mesmo nos momentos de arroubos de revolta contra a vida. Isso faz de Marley uma personagem leve, apesar da dor. É muito lindo vê-la andando de bicicleta vestido uma sai esvoaçante logo nos primeiros minutos do filme, ou conversando com seu cachorro gordo, fazendo de cada cena dessas um espetáculo de leveza diante do caos.

Como eu adverti no início, esse aqui é um texto cheio de spoilers. Me perdoem, mas a emoção me fez escrever assim.

Para mim esse é um filme nota 9.

Vejam e me contem, certo?

Jor


P.S.: Os vestidos e saias da Marley dão um SHOW.

"Então, essa é a minha história. Eu tinha amigos incríveis, não é? E incluo meus pais nesse grupo, apesar de toda a minha vida tê-los culpado por... bem, tudo. Mas a verdade é que eu estava com medo. Eu estava com medo de confiar e perdoar. Eu estava com medo que eu não fosse o bastante.          Mas eu era!" (A Little Bit of Heaven)

2 comentários:

  1. Eu vi esse filme ontem Jó... e gostei muito! Não sou muito fã da Kate Hudson, mas sempre gostei do Gael... lembra dele em Cartas para Julieta?
    Enfim... o filme me fez pensar no que de fato estamos fazendo com nossas vidas?? Será que a gente sabe viver ou nos tornamos escravos do trabalho e escravos da idéia de um futuro melhor porém esqueçendo de viver o presente, já que esse futuro é algo extremamente incerto!

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  2. incrível, ou não encontro mais palavras, ou então é só por estar num dia desinspirado. Mas é certo, é mesmo incrível este filme.. é notável a capacidade que ele tem de nos mostrar como é bom amar, como é bom seguir-mos os nossos impulsos (mesmo aqueles mais secretos). Há mais a dizer depois de ver este filme? não há, há sim mais para fazer ;)

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