domingo, 26 de setembro de 2010

Ela sabia que ia passar, e passou!

Ela sabia que ia passar, mas até passar ia doer e mesmo sabendo que a dor uma hora ia cessar, ela não conseguia deixá-la agir. A luta para não sentir aquilo doía bem mais do que a simples conformidade sobre a ação dela. Continuar, seguir em frente, recusar o passado e pensar só no futuro.
– É claro que eu posso, dizia ela!
E ela podia. Podia lutar e se negar ao sofrimento, ela era forte. Mas o que ela devia saber é que se negar ao sofrimento não acaba com ele, só o deixa adormecido em algum lugar. Num desses lugares escondidos em que apenas as coisas ruins (aquelas bem ruins) se escondem.
E ela seguiu. Trabalhou o máximo possível. Manteve-se ocupada até quando não era preciso estar. Leu muito.  Estudou mais ainda. Se afastou de todos que podiam de alguma forma lembrar o passado tão dolorido. Fez novos amigos. Novos lugares para ir. Novas pessoas pra conhecer.  Ouviu música, mas não as tristes, só as alegres. Conheceu lugares inusitados. Escreveu para os velhos amigos. E se perdeu dos velhos amigos.
– O mundo é cheio de infinitas possibilidades, dizia ela.  
E é. E ela sabia. E sentiu isso todos os dias. Era fácil driblar a dor quando há muito a ser feito, mas às vezes ela se distraía com uma música ou com uma simples traição do pensamento que a devolvia a ele. Ele que ela tanto fugiu durante meses ainda estava ali guardado, esperando. Lembrar doía e ela morria um pouco a cada vez que se deixava trair pelo pensamento.
Um dia ela se entregou. Reviveu tudo o que tinha acontecido, e sofreu, e chorou, e ouviu a música deles, e as outras músicas, aquelas bem tristes. Leu aquele romance tão evitado. E viu aquele filme em que o mocinho descobre que não pode viver sem a mocinha e volta pra ela. E esperou ele voltar. E ele não voltou. E ela teve que seguir. E seguiu.
Agora ela não ignorava mais a dor, aprendeu a conviver com ela. Até se acostumou com ela. Se apegou. Tratou de nutri-la, de deixá-la forte, indestrutível (era uma forma de não perde-lo por completo).
Mas ela sabia que algo muito bom aconteceria e um dia meio sem querer ela o encontrou. Era mias alto do que o que ela se lembrava e mais bonito também. Os olhos eram ainda mias brilhantes. O cheiro? Ah, esse ela nunca tinha esquecido e ele continuava igual; cheirava a amor. Um amor puro, jovem e inocente. E como num despertar de um sono profundo ela percebeu que ele (aquele por quem tanto sofreu) já não existia, havia morrido em algum lugar do passado, e ela tão entretida em cuidar da sua dor, nem havia percebido. Ela sorriu. Ele sorriu. Os dois seguiram em direções opostas. Ela sorriu sozinha. E parou de doer.
Dizem que ela anda por aí, feliz. Aprendeu a não ignorar a dor, senão ela permanece.  Aprendeu também a não nutrir a dor senão ela também permanece. Aprendeu que a vida tem muito a oferecer quando se está com o coração limpo (ela limpou o dela).
Ela sabia que ia passar. E passou!   



Jordânia Azevedo

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

As Pequenas Epifanias de Caio Fernando Abreu









Eu estava no primeiro ano da faculdade quando descobri Caio. Minha professora de Panorama Literário da Literatura de Língua Portuguesa me diria: Caio seu vizinho? - ela sempre dizia que devemos reverência os autores, devemos respeito a eles. Eu concordo com ela, em parte. A minha reverência está no cuidado que dou às palavras deles; está no cuidado com que guardo cada parte de sua obra em mim. Digo Caio, pois hoje me sinto tão próxima a ele. Talvez de todas as pessoas intensas e profundas que admiro, Caio é o que mais se aproxima da minha alma. Me delicio em cada palavra dele como se pudesse me reconhecer em cada linha. Sinto um profundo amor por tudo que ele produziu e continua produzindo em mim. Esses dias o meu Livro de cabeceira é um livro de crônicas dele. Pequenas Epifanias reúne crônicas que Caio escreveu entre 1986 e 1995. Crônicas belíssimas, cheias de sentimentos profundos. Não posso falar muito desse livro ainda, pois estou apenas no começo e confesso que a minha vontade é economizar o máximo possível (gosto de economizar as coisas dele). Lendo aos poucos, para não perdê-lo logo... Mas claro que dentre as poucas que li já elegi a minha preferida e trago aqui só pra falar no meu espaço sobre o meu grande apreço por Caio, aquele que podia perfeitamente ser o meu vizinho solitário, mas que por algum motivo prefere viver aqui, dentro de mim.   
Por Jordânia Azevedo 



  EXTREMOS DA PAIXÃO

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro (a) mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo (a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo (a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolos em face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
O Estado de S. Paulo, 8/7/1986

ABREU, Caio Fernando. Pequenas epifanias. Porto Alegre: Sulina, 1996. 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cartas Para Julieta

Quem me conhece sabe que o meu "grande lance" (leia aqui envolvimento) com histórias só começa realmente quando ela é extremamente dramática, açucarada e/ou triste. Daí o meu profundo gosto por tudo trágico que Shakespeare escreveu ou por qualquer uma das historinhas água com açúcar da Jane AustenCom filmes acontece do mesmo jeito. Quando a história é recheada de desencontros e com casos de amor mal resolvidos, aí sim é que tudo começa a fazer sentido para mim – sou dramática, eu sei!
Mas vou confessar que às vezes uma simples história de amor repleta de clichês e “Happy Ends” fazem-me bem feliz. Daí surge essa indicação de filme. Cartas Para Julieta (Letters to Juliet), o mais recente filme da nova queridinha de Hollywood Amanda Seyfried, é uma dessas histórias água com açúcar que me fazem um bem enorme. Deixemos de lado as interpretações dos “garotos” do filme e o enredo que em nada inova repetindo apenas a velha formula, para prestar atenção apenas em Seyfried, Vanessa Redgrave e no amor. Sim esse é o mais belo de todos os ingredientes do filme. (Preparem-se para o clichê) o amor nunca sai de moda, nunca é desagradável e é sempre bom revivê-lo seja por meio de um bom livro ou por meio de uma película cinematográfica bobinha. Fazer o que?! Sou sim uma dessas românticas convictas que acreditam em amor verdadeiro e coisa e tal; essa sou eu! Daí esse profundo apego por esse filme bobinho que acabei de assisti e mau via a hora de correr aqui pra contar para vocês.
Recomendo esse filme para aqueles, que como eu adoram, de vez em quando, suspirar por uma história de amor com final feliz. 
Nada de grandes expectativas, certo? Apenas uma “Love story” cheia de belas paisagens da Itália como plano de fundo.

Por Jordânia Azevedo

    



What if?                  ;-)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Mais é Nada


Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá. Admire a lua, sonhe com ela,  mas não queira trazê-la para a terra. Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o  seu calor é  para todos. Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar  no céu. Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde. Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos,  não  pode molhar só o seu. 
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces. 
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o! Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave! Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se  chega à parte alguma sem ela. Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho. Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho. Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas. Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual  for. Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso. Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os. Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também. Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa  procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando  julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se  afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!

Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
“Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada”.
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eu Poderia me Definir Assim...

Sou forte. Meio doce e meio ácida. Em alguns dias acho que sou fraca. E boba. Preciso de um lugar onde enfiar a cara pra esconder as lágrimas. Aí penso que não sou tão forte assim e começo a olhar pra mim. Sou forte sim, mas também choro. Sou gente. Sou humana. Sou manhosa. Sou assim. Quero que as coisas aconteçam já, logo, de uma vez. Quero que meus erros não me impeçam de continuar olhando para a frente. E quero continuar errando, pois jamais serei perfeita (ainda bem!). Tampouco quero ser comum e normal. Quero ser simplesmente eu. Quero rir, sorrir e chorar. Sentir friozinho na barriga, nó no peito, tremedeira nas pernas. Sentir que as coisas funcionam e que tenho que trocar de jeito quando insisto em algo que não dá resultado. Quero aprender e, ainda assim, continuar criança. Ficar no sol e sentir o vento gelado no nariz. Quero sentir cheiro de grama cortada e café passado. Cheiro de chuva, de flor, cheiro de vida. Aprecio as coisas simples e quero continuar descomplicando o que parece complicado. Se der pra resolver, vamos lá! Se não dá, deixa pra lá. A vida não é complicada e nem difícil, tudo depende de como a gente encara e se impõe. Quero ser eu, com minha cara azeda e absurdamente açucarada. Não quero saber tudo e nem ser racional. Quero continuar mantendo o meu cérebro no lugar onde ele se encontra: meu coração. E essa é a melhor parte de mim.

Clarissa Corrêa
Descobri Clarissa Corrêa e agora não paro de lê-la... >>>>>>>