Sabe aquela pessoa que parece estar sempre te subestimando? Você conta alguma coisa a ela e ela tem sempre algo relevante pra falar sobre aquilo. Meio psicólogo, sabe?! Você conta o motivo de sua tristeza e/ou chateação e a pessoa completa com algo que a sua terapeuta falaria se já não tivesse te sacado, se não tivesse percebido que você sabe um monte de coisas sobre a mente, sobre a vida e que sua terapia não é a terapia de alguém que não consegue enxergar os motivos, as consequências...
Chega a ser desconfortável, pois o que parece é que a pessoa ignora completamente a sua vida, a sua trajetória de vida. Já agi parecido e me arrependo profundamente.
Eu sei que sou interiorana. Minha cidade fica no interior do interior da Bahia, essa é a minha essência, gosto da tranquilidade, de ir caminhando aos lugares, de não viver preocupada com a posição de minha bolsa. Aqui a gente tem acesso a poucos bens culturais, esses que o resto da humanidade tem acesso (cinema, teatro, bons shows, simpósios, conferências...), mas somos ricos em cultura também... a nossa cultura é riquíssima.
E daí que inventaram um troço muito legal chamado universidade e eu fui lá, credita? E esse troço se for do bom abre a sua cabeça a ponto dela nunca mais voltar ao tamanho original. Eu era ingênua, mesmo, mas o meu troço foi excelente. Minha cabeça desde então só expande.
Fiz parte daquele mundo incrível das ideias... vivi intensamente os meus quatro anos de "iluminação". Tive contato com as mais diversas ciências. Fiz filosofia, sociologia, psicologia, literatura, linguística, cultura e identidade... conheci Foucault e Freud, Marx e Nietzsche, Beauvoir, Barthes, Saussure, Chomsky (FDP), Lispector, Macahdo, Pessoa... Althusser e seus aparelhos ideológicos. Conheço e percebo todas as manobras que a elite realiza, sei das manipulações que a “impressa” faz pra vender o que quer e nos comprar como bem intende. Conheço também as manobras que a minha cabeça faz, com ou sem a minha permissão, pra me derrubar... não busco perfeição nas minhas relações, mas cuido muito bem delas sim. Prefiro pedir permissão a pedir perdão. Conheci gente dos mais diferentes tipos de gente. Eu estive naquele limite perigoso que te faz passar a ser arrogância... essa arrogância das gentes que acreditam ser melhor por terem conhecimento formal e que acreditam, te julagando pela capa, que conhecem seus medos, suas angústias e que sabem exatamente o que dizer pra te trazerem de volta pra luz (que luz?)... mas escolhi ficar do lado de cá. Preferi ficar do lado em que não se sabe de quase nada, pois entendo que ter conhecimento formal não é ter conhecimento de fato.
Eu sou interiorana. Eu não sou viajada e acredite se algum dia tiver a oportunidade ($$) pra sair por aí conhecendo lugares, vou conhecer muito bem a minha região (A CHAPADA, gente que sonho!) o meu país (apesar da minha formação acadêmica – fiz letras/inglês). Vou conhecer muito bem meu litoral (o litoral do nordeste), vou conhecer o Rio e Sampa (prq não), Tocantins, Minas, Paraná esses lugares dessas gentes que eu amo tanto, mas depois é pra cá que eu vou querer voltar.
Eu sei que pode parecer que eu sou bobinha e sem esse conhecimento todo de mundo (eu vivo com meus pais, né? As pessoas tendem a achar que gente que vive com os pais não tem condições de se aventurar pelo mundo, ou que não sabe nada da vida, quando na verdade é uma questão de economia e conforto). Nunca saí daqui pra muito longe e fico querendo as coisas por perto, pois hoje eu sei bem o que me faz bem. Eu sei que todo mundo foi por aí e eu fiquei aqui reclusa no meu mundinho pequenininho, sem grandes novidades, mas ter ficado não me “emburrece”, ao contrário. Está tudo aqui comigo (apesar da consciência de que muito pouco sei, também sei que já sei algumas coisas (?)). E vou continuar procurando o perto. Vou continuar procurando pelos lugares que me façam poder voltar no dia seguinte, na semana seguinte, mas que eu volte sempre. Hoje sei que é aqui que QUERO estar.
Vou continuar deixando que achem que eu não sei o que eles sabem, afinal os outros só são os outros.
Eu posso não saber o que você sabe, pois nem tenho a pretensão de saber sobre tudo, mas tenho uma noção muito boa de muita coisa. Sou uma curiosa por natureza. E não que isso signifique alguma coisa!
... eu só precisava dar uma desabafadinha, assim e tal.