domingo, 18 de julho de 2010

Neruda



Saudade





Saudade é solidão acompanhada, 


é quando o amor ainda não foi embora, 


mas o amado já... 


Saudade é amar um passado que ainda não passou, 


é recusar um presente que nos machuca, 


é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais... 


Saudade é o inferno dos que perderam, 


é a dor dos que ficaram para trás, 


é o gosto de morte na boca dos que continuam... 


Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: 


aquela que nunca amou. 


E esse é o maior dos sofrimentos: 


não ter por quem sentir saudades, 


passar pela vida e não viver. 


O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda

Na Natureza Selvagem








Sabe aquele tipo de filme que quando acaba você fica se perguntando quem é você afinal? Pois esse é o caso de Na Natureza Selvagem. O filme dirigido e roteirizado por Sean Penn, foi inspirado na história real de Christopher McCandless, um jovem rapaz que resolve partir em busca de aventuras capazes de fazê-lo descobrir o real sentido da sua existência. 
Um filme questionador que a pesar de possuir todos os ingredientes para ser repleto de clichês, foge deles completamente. Chris está fugindo da “sociedade das coisas”, está fugindo também de seus pais – fuga que qualquer um de nós faz ao menos uma vez na vida. Entretanto, Chris disponibiliza através de sua história momentos deliciosos de reflexão (parece que tenho uma obsessão estranha por reflexão, não é?). 
Chris gosta de pessoas, de conhecer cada individuo e todas as possibilidades que esses indivíduos têm a oferecer contudo, ele também acredita que é possível viver plenamente sem a presença dessas pessoas.  Contraditório, não? Achar na solidão uma auto suficiência é contraditório pra alguém que se relaciona tão bem com as pessoas com que convive...   
A história é reveladora de características humanas bem peculiares. Medos infundados, incômodos involuntários e a eterna busca por um algo a mais que nunca está ao nosso alcance, pois temos a incrível capacidade de afastar a felicidade para o futuro. Um futuro que pode nunca chegar a existir, pois a vida acontece no presente. 
Chris percebe ao decorrer da sua jornada que a vida só vale a pena se dividida e descobre também que a felicidade tão buscada só é real se compartilhada (lembrei da música que diz: É impossível ser Feliz Sozinho).
Na Natureza Selvagem é um soco no estômago. Uma chacoalhada capaz de te fazer rever conceitos de vida... 
Sabe a história do livro certo na hora certa? Comigo isso acontece também com filmes e esse foi, sem dúvida, um filme certo na hora certa.
Confesso que o assistirei outras vezes, quantas vezes forem necessárias; 
fiquei com aquele sentimento de que posso ter perdido algum detalhe... certamente você ainda vai ler outras coisas aqui inspiradas na vida de Chris. Porém essa aqui é a primeira impressão da história e como a primeira impressão é a que fica, ficou um sentimento bom deixado pela epifania desse momento...
Um filme revelador, instigante e modificador.
Por Jordânia Azevedo

A felicidade só é real se compartilhada. (Christopher McCandless)

domingo, 4 de julho de 2010

Ter ou não Ter Namorado, eis a Questão


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. 
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. 
Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

Esse texto foi atribuído a Carlos Drummond de Andrade, mas é de Artur da Távola.

sábado, 3 de julho de 2010

O Evangelho do Futebol segundo Saramago

José Saramago era apaixonado por futebol. Pouca gente lembra disso. Certa vez, depois de uma derrota da seleção portuguesa. Saramago sentenciou ao jovem Luís Figo: "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas..."
Figo guardou as palavras e sorriu.
Durante suas visitas secretas ao Estádio da Luz ou ao Estádio das Antas Saramago filosofava sobre os heróis nas arquibancadas. Pois o que é o torcedor de futebol senão o próprio elogio da cegueira? Ao ver a multidão repetir o sinal da cruz, pedindo aos céus a vitória, Saramago respondeu ao amigo que lembrava o ateísmo do escritor: 
"Mas todo dia eu procuro um sinal de Deus.
Pena que não o encontro!"
Saramago que fazia o sinal da cruz em segredo, por via das dúvidas, foi assim, driblando memoriais dos clássicos e dos conventos, habitando espaço e memória que José Saramago construiu na literatura seu Maracanã, seu Palácio de Mafra.
Saramago que torcia em resguardo pelo time de sua paixão, sem vestir camisas, sem gritar refrão, pois cada um deve seguir seu caminho, seu coração. Qualquer tentativa de convencer o próximo é mera colonização. Futebol, Deus, Comunismo, Dom João. Tudo são apenas formas. Porque ao final dos 90 minutos de letra e bola rolando, escritor, leitor, fiel e ateu são todos prisioneiros de um conto desta ilha desconhecida chamada vida...

Por Roberto Vieria 

E depois de todo o burburinho causado pela eliminação do Brasil na copa me veio à cabeça uma frase sempre dita pela minha amada avó Valtina. Em momentos como esses ela sempre repetia: é fácil jogar pedra, difícil mesmo é ser vidraça. 
Meus respeitos aos senhores Dunga e Felipe Melo. Os dois nem me causam simpatia, mas desrespeito é uma coisa que causa um sentimento desconfortável em mim que eu nem consigo nomear. Antes de atletas e pessoas públicas eles são PESSOAS e merecem respeito. De quem foi a culpa? Não importa. O que está feito, feito está! Bola pra frente. Como bem disse Saramago o que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.
Esse trechinho by me!

P.S.: Achei o texto do Roberto Vieira aqui.