sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre a Desnecessidade que é Morrer (Uma Alusão a Saramago)

E aí hoje eu acordei cedo e fui trabalhar. Nada diferente do convencional: sonho bom (num sono profundo), despertador, preguiça, lembrança da responsabilidade, dentes, banho, roupa (dúvida), café preto (pra acordar), chave (cadê a chave?), escola, gritos, reunião com a coordenação (reclamação da coordenação – eles só sabem reclamar da gente), ensaio pra festa junina do colégio, ufa, casa. E quando em casa, internet, e aí a surpresa – Saramago se foi (vou usar um eufemismo, ele merece).
Todos morrem, não há o que fazer, morrer é parte da difícil tarefa que é viver.
Mas não me acostumo. Morrer transforma todo o resto em nada, em um grande amontoado de desnecessidades...
Pra que lutar? Pra que correr contra o tempo pra fazer o máximo se no final de tudo você morre?
Morre na rua, antes de chegar em casa; morre antes de terminar aquele livro tão bom; morre antes de dizer uma última vez pra pessoas com quem se importa que elas realmente são importantes pra você;
Morre, e aí você deixa pra trás tudo e todos... e as coisas vão continuar sem você e você não vai estar aqui pra observar aquele por do sol que tanto gosta, não vai mais poder ver na entrada da sua cidade todos aqueles tons de verde que a natureza tão bem distribuiu, não vai mais ouvir aquela música que te faz tão bem, não vai mais dançar sozinho no quarto pra passar as dores que as vezes só passam com uma dança descontrolada. Morrer faz tão pouco sentido quanto viver.
Mas voltemos a Saramago. Dele eu li pouca coisa. Lembro-me das primeiras aulas de literatura da faculdade quando nos foi incumbida a tarefa de resenhar “O Conto da Ilha Desconhecida”. Era tão diferente pra mim, tão diferente de tudo a que estava acostumada (só comecei a ler Saramago na graduação). Só sei que gosto do que leio dele, e gosto muito mais por me fazer pensar em outras possibilidades da existência humana.

Em comunicado à imprensa a família do escritor declarou que o mesmo morreu tranquilamente e estava cercado pela família. Parece justo. É justo que um grande homem tenha o direito de dizer adeus à vida tranquilamente. 


Por Jordânia Azevedo

                                        Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais. JOSÉ SARAMAGO

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Horinhas de Descuido

E aí eu li essa frase e fiquei com ela na cabeça e me deu vontade de comentar aqui e nem sei muito bem pra que, mas vamos lá! 
Guimarães Rosa, o grande Guimarães Rosa, disse certa vez que a felicidade se encontra em horinhas de descuido. Mas como assim? E os grandes momentos? Aqueles tão bem planejados que em nada lembram um momento de descuido? Pois é, fiquei pensando nisso e percebi ser esta a verdadeira verdade (desconsiderem esse traço determinista e relativista da minha fala... é que está tarde e tenho preguiça de pensar em algo mais elaborado e relevante pra dizer ;D)... mas observando os meus últimos momentos de felicidade percebi que sim, esses momentos ocorreram em períodos de puro e total descuido... no sofá da sala assistindo a um programa de esporte com meu pai e irmão... naquele recado simples deixado por aquela pessoa que me faz suspirar pelos cantos... num papo descontraído com aquela amiga (Soraya) que me entendo só de olhar... na espera pelo ônibus, cercada de alunos quando me senti a pessoa mais querida do mundo... naquele papo de MSN com “ele” que me chama pra conversar quando eu menos espero, e que por mais simples que o papo seja, saio sempre tão feliz dele...
Horinhas de puro descuido. Horinhas de simples FELICIDADE. Horinhas que fazem todas as outras horas (aquelas grandes que se arrastam) valerem a pena...
Sim Guimarães, a felicidade realmente ocorre em horinhas de descuido.  


Por Jordânia Azevedo

sexta-feira, 11 de junho de 2010



"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." NELSON RODRIGUES

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Descobrindo 'O Teatro Mágico'



###### Enquanto houver você do outro lado aqui do outro eu consigo me orientar. A cena repete a cena se inverte enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar.######



"Metade de mim agora é assim: de um lado a poesia, o verbo, a saudade... do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim. E o fim é belo incerto... depende de como você vê. O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só. Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você. Só enquanto eu respirar!"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Pessoa


Quando Vier a Primavera



Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.  
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro (o meu heterónimo preferido de Fernando Pessoa)