segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
V.

Carta de despedida de Virginia Wollf para seu marido Leonardo Woolf...

As Horas:

Última Parada de uma Vida Desviada pela Violência



Instigante... Assim eu definiria o filme “Última Paradas 174” do diretor Bruno Barreto. O filme revisita a história do jovem que seqüestrou o ônibus da linha 174 em 12 de Junho de 2000 no Rio de Janeiro. Como já é de conhecimento comum a história toda acabou num grande desastre. Uma das reféns foi morta tragicamente assim como o seqüestrador do ônibus numa ação desastrosa da policia. Mas e aí, o que há de tão especial no filme? O filme é muito bem feito sim e foi escolhido para concorrer à vaga do Oscar 2010 pelo cinema nacional (premio que é dado aos melhores filmes do ano segundo a academia cinematográfica Estadunidense). No entanto, o que mais chama atenção no filme é a HISTÓRIA que claro tem uma boa dose de ficção, mas que também é carregada de uma carga real infalível em filmes que tem como plano de fundo fatos que ganharam destaque midiático.
Quando o fato ocorreu o que saltou aos meus olhos foi a imagem tendenciosa que a imprensa divulgou na época: um homem aparentemente drogado apontando uma arma pra cabeça de uma jovem, gritando coisas sem sentido e transformando não só a vida dele mas também a vida de tantas outras pessoas que estavam naquele ônibus. Sandro era um jovem como outro qualquer que perdeu a mãe vítima da violência e que anos depois foi ele mesmo vítima da mesma violência. A reflexão que fiz depois que assisti ao filme “Última Paradas 174” é que aquele menino foi tão vítima naquele caso quanto a mulher morta pela policia; talvez Sandro nunca tivesse atirado naquela jovem (eu acredito que ele não teria feito)... Quando tudo acontece de maneira tortuosa é muito mais simples enveredar pelos caminhos errados que levam ao nada ou ao fim precoce. Mas o fato é que a “verdade” nós nunca saberemos. Não dá pra mensurar o quão afetado pela droga ele estava naquele fatídico dia e nem qual seria a sua reação quando desceu daquele ônibus disposto a colocar um fim naquela situação... O que ficou em mim foi uma incrível compreensão da situação que levou Sandro Nascimento a cometer tal ato. E ficou também a sensação de como somos pequenos e passivos diante dos problemas que afetam ao nosso próximo.
O filme “Última Parada 174” é uma incrível oportunidade de crescimento humano...
Por Jordânia Azevedo